Paulo Rangel visita China esta semana e passa por Macau na sexta-feira
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, visita a China esta semana, uma deslocação de quatro dias que inclui contactos com altos representantes do Governo chinês e uma passagem por Macau.
A agenda do chefe da diplomacia portuguesa arranca amanhã em Pequim, pelas 10h, com um encontro com o director-geral do Departamento Internacional do Partido Comunista da China, o ministro Liu Jinchao, indica uma nota divulgada pelo Ministério tutelado por Rangel.
Segue-se uma reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, e um encontro com o reitor da Beijing Foreign Studies University, Jia Wenjian. Ainda na capital chinesa, Paulo Rangel dará uma palestra na Beijing Foreign Studies University (BFSU) subordinada ao tema “Língua e Cultura Portuguesa”.
No dia seguinte, já em Haikou, o ministro português intervém no “Boao Forum for Asia 2025”, uma conferência anual realizada na província chinesa de Hainão que visa promover e aprofundar o intercâmbio, a coordenação e a cooperação económica entre a Ásia e outras partes do mundo. Ainda na quarta-feira, Paulo Rangel tem previsto um encontro bilateral com o vice-primeiro-ministro chinês, Ding XueXiang.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros participa igualmente na quinta-feira na sessão plenária do “Boao Forum for Asia 2025” e tem agendados encontros bilaterais.
O último dia da deslocação à China, sexta-feira, é dedicado a Macau e a Hong Kong, com uma agenda marcada, entre outros momentos, com encontros com representantes das associações, instituições de ensino e empresários portugueses e uma visita à Escola Portuguesa de Macau.
Paulo Rangel vai reunir-se igualmente com o Chefe do Executivo da RAEM, Sam Hou Fai, e com os conselheiros das Comunidades Portuguesas eleitos pelo círculo da China (China, Coreia, Japão, Singapura e Tailândia).
O programa oficial da visita de Paulo Rangel termina com uma visita à exposição “Estórias Lusas”, iniciativa dedicada à comunidade portuguesa, no Museu de História de Hong Kong.
RETOMA DO DIÁLOGO ESTRATÉGICO COM PEQUIM
A deslocação à China de Paulo Rangel quebra um hiato de mais de cinco anos sem visitas de alto nível de Portugal a Pequim, numa altura de reconfiguração da ordem internacional.
A visita de Rangel acontece num contexto em que o regresso ao poder de Donald Trump, nos Estados Unidos, pode remodelar alinhamentos geopolíticos e parcerias económicas entre a Europa e a China, de acordo com analistas.
As visitas de altos funcionários do Governo português a Pequim realizavam-se com frequência quase mensal, até ao final de 2019, mas foram interrompidas pela pandemia da Covid-19, que levou ao encerramento das fronteiras da China.
No entanto, a ausência de deslocações prolongou-se mesmo depois do fim da reabertura das fronteiras do país, em Janeiro de 2023, e da visita a Portugal do vice-presidente chinês, Han Zheng, em Maio desse ano.
Em entrevista à Lusa, Michael Sheridan, jornalista e autor de um artigo sobre as relações entre Lisboa e Pequim para o grupo de reflexão (‘think tank’) Center for European Policy Analysis, admitiu ter ocorrido um distanciamento entre os dois países, em linha com uma mudança na política externa da União Europeia (UE).
“A postura de Portugal alinhou-se com uma mudança geral [na política] da UE”, argumentou. “Não vejo algo antagónico entre os dois países. A base política [na Europa] foi a de reduzir riscos. Esse tornou-se o novo paradigma. Existem diferenças na forma como cada país europeu interpretou, mas a direcção era clara”, notou.
A China tornou-se, na última década, o quarto maior investidor directo estrangeiro em Portugal. Empresas chinesas, estatais e privadas, detêm uma posição global avaliada em 11,2 mil milhões de euros na economia portuguesa, segundo o Banco de Portugal (BdP). Os investimentos abrangem as áreas de energia, banca, seguros ou saúde.
Em 2018, os dois países assinaram um memorando de entendimento sobre a iniciativa “Faixa e Rota”, um megaprojecto de infraestruturas lançado por Pequim que visa expandir a sua influência global através da construção de portos, linhas ferroviárias ou autoestradas.
Michael Sheridan apontou uma mudança de atitude na Europa face à China devido à pressão dos Estados Unidos, à pandemia da Covid-19, que deteriorou as percepções sobre o país, e à aproximação de Pequim a Moscovo, no contexto da invasão russa da Ucrânia. “Tudo isso levou a uma redução da confiança e simpatia política por Pequim”, disse.
Em 2023, um órgão consultivo do Governo português deliberou sobre a exclusão de facto de empresas chinesas do desenvolvimento das redes de quinta geração (5G). A decisão foi “a mais extrema” entre todos os países europeus, disseram, então, à Lusa funcionários do grupo de tecnologia chinês Huawei.
A visita de Paulo Rangel a Pequim decorre após o regresso ao poder nos Estados Unidos de Donald Trump. As posições antagónicas do líder norte-americano face à aliança transatlântica são vistas por analistas como susceptíveis de reaproximar Europa e China.
“Muitos líderes europeus verão uma oportunidade de assinalar o estreitamento dos laços com a China como uma alavanca para garantir compromissos contínuos por parte dos EUA”, escreveu, num relatório, o ‘think tank’ Chatham House, com sede em Londres. “Esta estratégia poderá ter algum sucesso. Apesar da crise de confiança, a Europa detém cartas muito importantes no triângulo EUA–China–Europa”, acrescentou.
No mês passado, o Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, com quem Rangel se deve reunir em Pequim, propôs na Conferência de Segurança de Munique a participação da Europa nas negociações de paz na Ucrânia e uma reformulação mais alargada das relações sino-europeias.
“A China sempre viu a Europa como uma parte importante no mundo multipolar”, afirmou Wang. “As duas partes são parceiras e não rivais. A China está disposta a trabalhar com a parte europeia para aprofundar a comunicação estratégica e a cooperação mutuamente benéfica”, garantiu.
