Montenegro vê Europa «atónita» por eleições que só vão acontecer por causa do «sucesso do Governo e da popularidade do primeiro-ministro»
Recados para dentro e para fora, mas também numa lógica de pré-campanha onde ainda houve tempo para fazer lembrar Cavaco Silva: «Tomara eu que a política portuguesa estivesse preenchida com a independência que sempre tive e vou continuar a ter»
Ainda falta a palavra do Presidente da República, mas o primeiro-ministro parece não ter muitas dúvidas: Marcelo Rebelo de Sousa vai dissolver a Assembleia da República e confirmar a realização das terceiras eleições legislativas num espaço de três anos.
Numa mensagem de força para fora e para dentro, Luís Montenegro foi ao Conselho Nacional do PSD afirmar que esse cenário, o de eleições, só vai acontecer por inveja, sendo que lá fora, continuou, ninguém percebe o que se passa.
“A principal razão pela qual vamos ter uma dissolução da Assembleia da República e eleições antecipadas… a principal, a grande razão, aquela que não é assumida, mas verdadeiramente está por detrás do comportamento dos partidos que derrubaram o Governo, é simples e facilmente explicável: a razão para esta situação é o sucesso do atual Governo e a popularidade do primeiro-ministro”, afirmou, no início de um discurso em que puxou dos galões para dizer que não é só por cá que o Governo é bem visto.
Olhando para uma plateia onde estavam ministros e autarcas, mas também a antiga presidente do PSD Manuela Ferreira Leite – que até lhe foi dar uma força para dizer que «o país precisa de si» -, Luís Montenegro disse que os portugueses não percebem porque vamos para eleições.
“O país caminha para a realização de eleições legislativas antecipadas e eu estou particularmente ciente da estupefacção com que a maioria dos portugueses encara esta circunstância”, começou por dizer.
“Do ponto de vista interno, não quero ajuizar em nome do povo, mas é relativamente pacífico que as portuguesas e os portugueses têm uma apreciação positiva do trabalho do Governo, do líder do Governo, compreenderam o ímpeto transformador e a diferenciação deste ciclo face ao ciclo governativo anterior”, continuou, antes de ir definitivamente lá para fora.
É que se não compreendemos por cá, também não se compreende em Bruxelas ou noutras capitais da Europa, onde Portugal é visto como “um país tranquilo, que visto de fora é um exemplo”.
“A Europa vê Portugal como um exemplo, está atónita com aquilo que está a acontecer a Portugal. Mas a Europa, devo dizer-vos, está expectante para ver quão reforçado vai sair o Governo face à situação criada”, reiterou.
Uma Europa que também lhe pergunta, garantiu o próprio, pelos seus méritos. Foi aqui que insistiu no exemplo da Autoeuropa, que vai produzir o novo elétrico low cost da Volkswagen, o que se ficou a saber exatamente um dia antes de o Governo ser derrubado.
Mas há mais: disse Luís Montenegro que tem sido abordado no Conselho Europeu para explicar como faz em relação aos jovens, referindo que os líderes europeus mencionam uma política “visionária e pioneira”, mesmo num Governo que não se esquece, segundo o seu líder, de ninguém: pensionistas, mulheres, trabalhadores rurais, industriais…
Num discurso que cheirou a pré-campanha, mas que também terá servido para afastar fantasmas internos, Luís Montenegro reiterou que não deve nada a ninguém, para depois fazer lembrar o antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva. Não sugeriu que tivessem de nascer duas vezes para serem tão sérios, mas fez lembrar: “Tomara eu que a política portuguesa estivesse preenchida com a independência que sempre tive e vou continuar a ter”.
“Fácil não é. Se tenho tido momentos difíceis? Com certeza. Se gosto de que queiram vender ao país uma ideia de pessoa que não é a que está aqui? Não gosto. Mas se pensam que nalgum momento hesitarei em continuar a dar tudo o que tenho a favor do nosso país, não se cansem, porque vão cansar-se mesmo. Estou aqui para dar e durar”, reforçou.
